2005-06-05

Quando o terror se serve da democracia

Acontece hoje no sul do Líbano. Jovens libanesas distribuem com afã propaganda improvisada enquanto se dirigem para a assembleia de voto, onde o referendo favorece as intenções dos guerrilheiros pró-Síria, o Hezbollah, o Partido de Deus, que assim não terá de desarmar os seus militantes.

Os votantes madrugadores das primeiras eleições após a retirada síria, tornaram bem claro o seu apoio à guerrilha contra Israel. À porta de uma assembleia de voto, numa curiosa interpretação da liberdade de expressão democrática, estavam estacionados dois carros que iam transmitindo cânticos xenófobos e discursos de líderes do Hezbollah.

A votação – a segunda volta de um total de quatro em Domingos consecutivos – é o primeiro acto eleitoral depois da Guerra Civil de 1975-1990, em que o Líbano não está sujeito ao jugo sírio. A oposição democrática ao controlo de Damasco, espera, apesar de tudo, inaugurar finalmente uma legislatura independente e plural.

O primeiro sinal de encorajamento veio da capital Beirute, onde os candidatos anti-Síria arrecadaram a maioria dos 19 assentos parlamentares em contenda.

Mas a situação no sul é radicalmente diferente. Aqui o escrutínio é visto como uma forma de rechaçar a pressão exercida pela comunidade internacional, no sentido de desarmar o Hezbollah, vontade materializada na resolução 1559 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, apoiada pelos Estados Unidos e pela França.

À entrada de uma assembleia de voto na cidade portuária de Tyros, há uma imagem reveladora do extremo demagógico que foi ultrapassado: De um lado, uma foto com o líder do Hezbollah, o Sheik Hassan Nasrallah, sublinhada com um enorme “Sim”, e do outro, um retrato do Presidente norte-americano com um chapéu de cowboy, com a seguinte legenda: “Não”.

Contexto

O sul do Líbano continua a ser palco de tensão esporádica, com movimentações militares não autorizadas pelas Nações Unidas dos dois lados da fronteira, após a retirada dos israelitas da zona de segurança que mantinham na região.

O Hezbollah espera conseguir uma forte votação, como forma de lhe devolver a influência política perdida com a retirada da Síria em Abril passado. É a única forma de resistir à crescente pressão para o desarmamento vinda da comunidade internacional.

A resolução 1559 estabelece a retirada Síria do Líbano e ordena o desarmamento de todas as milícias. O Hezbollah recusa-se a cumprir a determinação por se considerar um movimento de resistência e não uma milícia.