2006-08-02

O Outono do Patriarca

O anúncio da transferência de poderes em Cuba, proclamada pelo punho e letra de Fidel Castro, imediatamente antes da intervenção cirúrgica a que foi submetido, iniciou de uma forma iniludível a transição para o pós-castrismo, sem que ninguém possa, de uma forma séria e credível, prever como o processo vai terminar.
O Outono do patriarca, para usar uma figura de estilo emprestada por Gabriel Garcia Marquez, é apenas a etapa que precede o seu ocaso definitivo e a abertura de um novo caminho político para Cuba que, esperamos sinceramente, sob a égide da reconciliação entre os cubanos do interior e do exterior, conduza a ilha à democracia plena.
Pela primeira vez em 47 anos, Fidel delega o poder e fá-lo, de forma sintomática, no próprio irmão, Raul, de 75 anos. Esta é a expressão mais eloquente da incapacidade do regime em se renovar e reinventar. Um regime anacrónico que só sobreviveu ao colapso comunista do início da década de 90, através das coesão mantida face ao embargo decretado pelos Estados Unidos, à repressão impiedosa da oposição interna e ao surgimento de populismos oportunistas que correram a aliar-se ao líder histórico da Revolução Cubana.
Para lá das especulações e movimentações nos corredores do poder uma coisa é certa: Não há castrismo sem Castro. Agora, é tempo de os Estados Unidos não descurarem o “quintal” e precaverem-se de avalanchas migratórias, cumprindo, com eficácia, a sua tarefa primordial: acalmar os ânimos sempre ferventes da comunidade cubana de Miami.